sábado, 10 de outubro de 2020

FAZENDA DA JUTA - REGULARIZAÇÃO DOS IMOVEIS EM 2016

Moradores da Juta conquistam registro dos imóveis

Bairro da cidade de São Paulo, que agora possui uma boa infraestrutura, é resultado da ocupação iniciada na década de 1970.

Rádio Brasil Atual: Publicado em 24/06/2016 16:58

São Paulo – Após décadas de luta, 5 mil famílias conseguiram o registro dos imóveis na Fazenda da Juta, na zona leste da capital. No sábado 18 a prefeitura de São Paulo regularizou a primeira parte dos terrenos. Desde 1990, os moradores financiam as residências, que até então estavam sem escritura.

O bairro, que agora possui uma boa infraestrutura, é resultado da ocupação iniciada na década de 1970. A pesquisadora e moradora do bairro Deocleciana Ferreira conta como os moradores resistiram para continuar no antigo terreno. "Houve conflito e resistência. Casas foram derrubadas, as pessoas tiveram de fechar a Avenida Sapopemba e fazer barricadas para não perderem suas casas."

Nos anos 1980, os conflitos violentos com a polícia pela posse da terra se intensificaram e foi justamente quando a maioria dos moradores chegou aqui. "Lembro que meu pai dizia para nós que teve muito confronto com a polícia. Muitas vezes, eles levantavam a parede e a polícia vinha e derrubava", diz André Ferreira, morador do bairro.

Francisco de Souza está entre os primeiros a chegar à Fazenda da Juta, em 1976. "As pessoas achavam que aqui era uma terra de ninguém, então, tinha muito justiceiro, muitas pessoas perseguindo os moradores. Muitos não podiam nem trabalhar, porque o pessoal entrava nas casas e levava as coisas embora", conta.

Reportagem no Youtube: https://youtu.be/o5_E4HYJEpc

Fonte: Rede Brasil Atual - 24/6/2016, <https://spbancarios.com.br/06/2016/moradores-da-juta-conquistam-registro-dos-imoveis> Acesso em 10/10/2020





sexta-feira, 5 de julho de 2019

A NOVELA DO MONOTRILHO: CAPÍTULO 2019

Por Moisés Basílio Leal

          Abaixo a reprodução de uma matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo sobre a situação atual, 2019, do monotrilho, linha 15-prata, que passará no Conjunto Mascarenhas de Moraes. 

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Monotrilho acumula trapalhadas e vira herança maldita para Doria
Nos últimos meses, linha 15-prata teve de batida a queda de muro; Metrô garante segurança




5.jul.2019 às 16h05 – Folha de S. Paulo

Artur Rodrigues

Atrasada e com modelo inédito bancado por gestões tucanas, a linha 15-prata do metrô acumula problemas que vão de batida de trens a desabamento de um muro.

O primeiro trecho da linha foi aberto em 2014, mas até o fim do ano passado o monotrilho ainda estava oficialmente em fase de testes. As trapalhadas, que começaram ainda antes da inauguração, vêm se intensificando nos últimos meses e se tornando uma herança maldita deixada por Geraldo Alckmin (PSDB) para o governador João Doria (PSDB).

Para especialistas, a situação é reflexo da adoção de monotrilho em proporção não testado no mundo, no qual o metrô paulistano terá de aprender por meio dos próprios erros.

O monotrilho —espécie de trem com rodas, sobre um estrutura elevada —foi apresentado como uma solução rápida e barata para ligar a Vila Prudente à Cidade Tiradentes, mas virou uma obra demorada e cara.

A promessa do monotrilho vem de 2009, ainda com o então governador José Serra (PSDB). Parte das estações tiveram problemas na fase de obras e foram inauguradas às pressas pelo ex-governador Alckmin, antes das eleições onde concorreria à Presidência.

Na última semana, o muro de uma das últimas estações entregues, a Camilo Haddad, na região do Parque São Lucas (zona leste de SP), desabou sobre a escada que dá acesso à plataforma.

“Fizeram isso aí de qualquer jeito, sem viga, sem nada, apenas areia”, disse o vigia José Benedito dos Santos, 63, morador da casa ao lado do muro que desabou, que ficou cheia de rachaduras. “Poderia ter matado alguém. As pessoas costumam ficar sentadas nessa escadaria.”
Dois monotrilhos da linha 15-prata do metrô colidem na noite de terça-feira (29) Reprodução



1.             
O incidente foi o quarto relevante neste ano relacionado à linha. Os problemas começaram em janeiro, quando um equipamento chamado terceiro trilho, que fornece energia aos trens, se soltou e ficou pendurado a 15 metros do solo. A circulação foi interrompida.

Um dia depois, um incidente ainda mais grave: dois trens bateram. Como os vagões estavam vazios, ninguém se feriu.

Em maio, houve o caso de um pneu e uma composição do monotrilho que se deslocou da viga de rolamento durante uma manobra.

De acordo com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação pelo jornal Agora, do grupo Folha, no primeiro bimestre do ano a 15-prata era linha com mais falhas notáveis, com 38% do total da rede.

Passageiros que chegam ao monotrilho vindos da linha 2-Verde relatam queda no padrão. Saem de um trem lotado, porém veloz, e entram numa composição trepidante e demorada.

O porteiro Ricardo Francisco da Silva, 38, afirma que os trens passaram a ter maior tempo de intervalo após os incidentes deste ano. “É muito lerdo. De noite, depois das 22h, às vezes esperamos bem mais de dez minutos por um trem”, diz ele.

Em 2018, o intervalo médio entre trens nos dias úteis foi de quatro minutos nos horários de pico e de seis nos demais. Na linha 3-Vermelha, por exemplo, a média é de cerca de dois minutos em ambos os períodos.

Silva relata ainda que mais de uma vez foi surpreendido com a interrupção da linha para testes. “Nesses dias, colocam o Paese [ônibus que faz o mesmo trajeto] e eu chego atrasado na certa.” 
Crculação de trens do monotrilho na inauguração da linha 15-prata, em agosto de 2014 Joel Silva - 30.ago.2014/Folhapress
 A fase de testes do monotrilho oficialmente acabou, mas o metrô ainda trata a linha com cuidado. Apesar de o sistema funcionar sem maquinistas, em geral um funcionário permanece no primeiro vagão, a postos para algum imprevisto. 

“A linha 15 é uma experiência, inaugurada sem que todos equipamentos estivessem testados”, afirma o coordenador geral do Sindicato dos Metroviários, Wagner Fajardo. “O sistema de sinalização, por exemplo, que levou aquele choque entre trens, ainda está em implantação”.

Atualmente, apenas seis estações estão em funcionamento, entre Vila Prudente e Vila União. A gestão Doria, que retomou obras paradas em 2018, promete mais quatro estações para este ano e uma última, Jardim Colonial, para 2021.
O custo do trecho —de 15,3 km e 11 estações —é de R$ 5,2 bilhões.

Em 2013, o governo estadual prometeu gastar R$ 5,4 bilhões (R$ 7,4 em valores atualizados) para fazer os 26,6 km da linha, até Cidade Tiradentes. O prazo previsto no edital para a entrega de toda a linha venceu há quatro anos.

“É uma operação muito ambiciosa fazer um monotrilho trabalhar igual uma linha de metrô. Não temos precedentes no mundo”, afirma o consultor Marcus Quintella, coordenador da FGV Transportes, que desenvolveu um estudo sobre monotrilhos. “Em nenhum lugar monotrilho tem um intervalo de 90 segundos, 180 segundos, querem aqui.”

O consultor cita que o maior monotrilho do mundo, em Tóquio, transporta 180 mil pessoas por dia. A demanda prevista para o monotrilho até o Jardim Colonial é de 405 mil.

Quintella afirma que, devido uma série de limitações, mais das metade dos monotrilhos do mundo foi desativada. Entre os motivos apontados está o fato de o meio de transporte, que não é de alta capacidade, acabar tento um custo muito alto e exigir subsídios governamentais.

“É um modo que hoje se mantém em cidades da Ásia muito mais como ligações para aeroportos, parques de diversões, ligações industriais, do que propriamente para transporte de massa”, diz.

A gestão João Doria dá sinais de que riscou dos planos o modelo monotrilho. O governador anunciou que desistiu do projeto de construir um monotrilho até a região do ABC, que será substituído por um BRTsistema de transporte com ônibus rápidos).

O secretário de Transportes, Alexandre Baldy, usou as obras paradas de outro monotrilho, o da linha 17-ouro, como contraexemplo do que gostaria que acontecesse em São Paulo. Prometida para a Copa do Mundo de 2016, a linha é um dos maiores fracassos da gestão Alckmin. 
OUTRO LADO
O Metrô afirma que o monotrilho da linha 15-prata é um “meio de transporte seguro, moderno, tecnológico e pioneiro em São Paulo”.

“O projeto conta com todos os certificados de segurança exigidos pela legislação vigente no Brasil e internacionalmente”, afirma a nota.

De acordo com a empresa, a recente queda de um muro divisório não estrutural “não toca, de forma alguma, a segurança da Linha 15”.

Relatório interno do Metrô constatou falha humana no caso da batida entre trens, em janeiro. O documento afirma que uma ação de funcionário tornou invisível uma das composições ao sistema, causando a batida.

Já os metroviários afirmam que o monotrilho não tem um segundo sistema que conseguiria captar essa falha e corrigir o problema.

Sobre o aumento de falhas, o Metrô afirmou anteriormente que “era esperado e se deveu à implantação de quatro novas estações na linha 15-prata e a implementação desta em período integral”. ​
CRONOLOGIA DE FALHAS
28 de junho - Um muro que divide a estação Camilo Haddad, do monotrilho, de casas vizinhas, desabou em área de pedestres.
16 de maio - Pneu de uma composição do monotrilho se deslocou da viga de rolamento durante uma manobra. 
29 de janeiro - Dois trens se chocaram na estação Jardim Planalto.
28 de janeiro - Um equipamento se soltou, ficou pendurado a 15 metros de altura do solo e interrompeu a circulação de trens entre as estações São Lucas e Vila União. 
2018 - Empresa contratada para fazer o acabamento e a instalação hidráulica de quatro estações abandonou obras e trabalhos ficam paralisados. 
2015 - Governo decide congelar plano para a construção do monotrilho até a Cidade Tiradentes. Com isso, seis estações previstas inicialmente não tem mais previsão de entrega  
2014 - Uma falha no projeto do monotrilho causou paralisação da obra, uma vez que engenheiros "descobriram" galerias de águas de um córrego embaixo da av. Professor Luiz Ignácio de Anhaia Mello. Isso obrigou o governo a fazer um novo projeto e mudar o córrego de lugar.


quarta-feira, 1 de maio de 2019

AVENIDA SAPOPEMBA: UM POUCO DE HISTÓRIA

Fonte: Sítio Dicionário de Ruas, <https://dicionarioderuas.prefeitura.sp.gov.br/logradouro/avenida-sapopemba> acesso em 01/05/2019.

AVENIDA SAPOPEMBA
Texto elaborado pelo historiador Luís Soares de Camargo.

Localização: Belenzinho | Distrito: Belém
A história da atual Avenida Sapopemba teve início ainda no século XIX. Naquela época, ela era conhecida como "Estrada de Sapopemba" e foi aberta para fazer a ligação entre os diversos sítios, chácaras e fazendas da região. De fato, por volta de 1880, a área urbanizada da cidade de São Paulo não ia além da atual Vila Gomes Cardim. Naquele período, a atual Vila Regente Feijó (onde tem início a Av. Sapopemba) ainda não existia. Mas a antiga Estrada de Sapopemba já estava presente na geografia da cidade. No século XIX, existiam diversas estradas "rurais" que faziam a ligação do núcleo urbano de São Paulo com diversas localidades. Assim era a "Estrada de Sorocaba" (hoje R. da Consolação e a sua derivação para Pinheiros) e a "Estrada de Jundiaí" (hoje um trecho da Avenida São João, General Olímpio da Silveira e a sua continuação pela Água Branca). Todas essas antigas estradas (hoje Avenidas) sofreram alterações em seus traçados e, principalmente, em suas denominações. Daí a importância da Av. Sapopemba para a cidade de São Paulo. Apesar de algumas retificações, ela permanece basicamente com seu traçado original e, mais importante, conservando a sua antiga denominação, ou seja, SAPOPEMBA. No início, ainda no século XIX, a estrada de Sapopemba (como o próprio nome já diz) era uma estrada de terra batida utilizada por tropeiros e pequenos sitiantes que por ela faziam chegar seus produtos até a cidade. Porém, uma grande transformação ocorreria já nos últimos anos do século XIX e princípios do século XX. O rápido processo de crescimento e urbanização pelo qual passou a cidade de São Paulo naquele período, fez com surgir diversos loteamentos entre a Moóca e o Tatuapé. Dentre eles, estavam a Vila Formosa e a Vila Prudente. Entretanto, todos os novos loteamentos (hoje bairros) conservaram o traçado da estrada de Sapopemba, uma vez que ela era por demais tradicional e uma histórica ligação de toda a Zona Leste até o centro da cidade. Entre 1910 e 1930, surge ao redor da estrada, numa antiga gleba de terra conhecida como ?Fazenda Sapopemba?, o atual bairro. A sua protetora é Nossa Sra. de Fátima, cuja imagem foi trazida de Portugal. Essa é uma referência importante para a história de Sapopemba, uma vez que os seus primeiros moradores eram portugueses e espanhóis. Com a rápida urbanização de seu entorno, a antiga "Estrada de Sapopemba" perde essa característica, ou seja, de estrada rural. Porém, nas décadas seguintes ela ainda continuaria a ser conhecida com essa designação (de "estrada"). Os moradores, por sua vez, não se conformavam. A partir de 1940, iniciaram um movimento para a transformação da estrada em Avenida. Os seus reclamos ganharam eco na Câmara Municipal e, em 1950, era apresentado o primeiro Projeto de Lei que a transformava em Avenida. O autor foi o então vereador Jânio da Silva Quadros que assim se expressou: É absurda a denominação de "estrada" à verdadeira avenida de ligação, toda edificada, e da máxima importância social e comercial. Depois, além de outros inconvenientes, a atual denominação tem impedido a entrega de mercadorias com a facilidade e a rapidez necessária, imaginando quem deva proceder a essas entregas que o local é retirado, longínquo, de difícil acesso, quando na realidade, é hoje, um legítimo trecho do centro de bairro populoso. Mais: - médicos já se recusaram à noite, a atender enfermos na "estrada" da toponímia esdrúxula. Supõem cuidar-se de zona rural, de subúrbio distante, com jornada perigosa e cansativa, nunca o coração da Água Rasa. Urge modificar o nome, que representa um logro, uma diminuição, uma falsidade. Daí o projeto que é o melhor desejo do povo local. Sala das Sessões da Câmara Municipal, 11 de Setembro de 1950 "Jânio Quadros". Porém, esse projeto de Lei não seria aprovado imediatamente. Outro projeto no mesmo sentido foi apresentado em 1952 pelo vereador Farabulini Jr., e aprovado no dia 19/05/1954. No dia 03 de Junho de 1954, o já Prefeito Jânio Quadros sanciona a Lei 4.484 que alterava o nome de "estrada" para "Avenida Sapopemba". A partir dos anos 70, 80 e 90, várias obras são realizadas nesta avenida. Nos seus 26 quilômetros dentro do município de São Paulo, alguns trechos são de pista dupla, outros simples e, também, trechos praticamente rurais. Desde a Água Rasa e até a "estrada do Rio Claro" no Distrito São Rafael, são diversas as paisagens, ocupações e, por consequência,
as histórias que dessa avenida se pode extrair. Uma curiosidade porém, deve ser registrada: apesar de hoje ela ser uma avenida, em alguns trechos a antiga "estrada" reaparece, especialmente no extremo na Zona Leste. Por outro lado, deve ser lembrado que ao entrar nos municípios de Mauá e logo após em Ribeirão Pires, ela retorna ao seu passado e passa a ser denominada oficialmente como "Estrada de Sapopemba". Nesse sentido, o seu ponto final na Avenida Francisco Monteiro em Ribeirão Pires, está há exatos 29 quilômetros da Praça da Sé.

A respeito do nome SAPOPEMBA:
Como se trata de um nome indígena (Tupi), não se sabe ao certo quando ele foi aplicado para denominar a região (isso antes da abertura da estrada). A explicação mais aceita para este nome é a seguinte:

Sapó (raiz) + pema (que se projeta para fora)
Esta era a denominação de algumas espécies de árvores cujas raízes se projetam para fora da terra e entrelaçam o tronco (grandes figueiras, gameleiras). Os estudiosos dizem que na região existiam esse tipo de árvore o que, por sua vez, determinou a aplicação do nome "Sapopemba".

Texto elaborado pelo historiador Luís Soares de Camargo.

Logradouro oficializado através da Lei nº 4.484, de 03 de junho de 1954.
Legislação anterior: Ato nº 972, de 24 de agosto de 1916.
O Decreto nº 54.466, de 15 de outubro de 2013, estende a denominação da Avenida Sapopemba e fixa os seus pontos de referência.O processo administrativo nº 1994-0.059.825-4 é o que trata do assunto.

MAIS INFORMAÇÕES

Nomes Anteriores:
Logradouro Formado Por Trechos Conhecidos Por Estrada de Sapopemba, Estrada do Rio Claro e Estrada Adutora de Rio Claro.
Descrição Técnica:
Início: confluência da Rua Água Rasa com a Avenida Salim Farah Maluf (setor 052 - quadras 001 e 360); Término: divisa do Município de Mauá (setor 249 - quadra 989 e setor 250 - quadra 997), situados nos Distritos da Água Rasa, Vila Formosa, Aricanduva, São Lucas, Sapopemba, São Rafael, Iguatemi e São Mateus, Subprefeituras da Mooca, Aricanduva/Formosa/Carrão, Vila Prudente, Sapopemba e São Mateus.
CADLOG:
17.824-1
Processo:
40.522/48
Oficialização:
LEI nº: 4.484 de 03/06/1954
Legislação anterior: Ato nº 972, de 24 de agosto de 1916.
O Decreto nº 54.466, de 15 de outubro de 2013, estende a denominação da Avenida Sapopemba e fixa os seus pontos de referência. O processo administrativo nº 1994-0.059.825-4 é o que trata do assunto.

Mapa:

A exibição da localização através do GoogleMaps é feita pela consulta do endereço e eventualmente pode não corresponder ao endereço oficial do logradouro. Para visualizar a localização precisa do logradouro, você pode consultar o Mapa Digital da Cidade de São Paulo (GeoSampa), que é o mapa oficial da Cidade.



segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Barra do Catimbó x Sapopemba


Marcos, Plinio. Na Barra do Catimbó: Editora do Autor, s/d, 125pp. (trecho extraído das páginas 50-53)

Por Moisés Basílio Leal


            Plínio Marcos é um escritor criativo, original e de com uma verve eloquente ao narrar as coisas das “quebradas do mundaréu”. Morreu fora do combinado, como diz Rolando Boldrin, com 64 anos, em 1999, mas nos deixou uma obra exemplar e que é pouco valorizada em nossa literatura.

            Veio do mundo marginal e praticou uma literatura marginal, na forma de escrever e de retratar a realidade social e ao colocar no centro de suas peças teatrais, artigos, contos e romances as personagens desse mundo como protagonistas e antagonistas, como é o caso nesse romance que retrata a favela da Barra do Catimbó e seus moradores.

            Arguto observador, Plinio Marcos em “Na Barra do Catimbó” faz uma narrativa literária do processo de crescimento desordenado da periferia da cidade São Paulo nas décadas dos anos de 1970 e 1980, aquilo que a sociologia conceituou de espoliação urbana. A combinação de uma nova ordenação da exploração do Capital com o regime autoritário brasileiro que criou as bases da precarização e espoliação da classe trabalhadora nos grandes centros urbanos. As favelas não se proliferaram por uma mero acaso, mas faziam parte do processo desordenado do crescimento econômico e desigual do país.

            Nesse modelo político, crescimento econômico e desigualdade fazem parte da mesma moeda. No seu romance, Plinio Marcos a partir do olhar do povão das “quebradas do mundaréu” mostra o nascimento desta nova sociabilidade, suas contradições e consequências. Um exemplo é como ele narra as ações dos bandidos e ladrões no interior da favela da Barra Catimbó nas figuras do bandido bom malandro (o negro Catimbó) e do bandido mal (Zecão) nas disputas pelas relações de poder numa comunidade que se forma sem ação de políticas públicas por parte do Estado. Outro exemplo é a disputa desse mesmo poder pela ação da religião, onde as religiões de matrizes africanas estão presentes e as igrejas de matrizes cristãs estão ausentes.

            Um importante detalhe me chamou atenção na obra, a citação de Sapopemba. Plinio Marcos sabia muito da geografia das “quebradas do mundaréu” da cidade de São Paulo e a citação do Sapopemba não está aí à toa. A região do Sapopemba nos anos de 1970 e 1980 é onde esse crescimento desordenado e desigual se dá de forma mais pungente na cidade. Nestas duas décadas a região teve um adensamento populacional enorme, principalmente com a formação de favelas em áreas públicas de fundo de vale e morros, como na fictícia Barra do Catimbó. 
 
            Por isso é emblemático o maior jogo de futebol vencido pelo time da Barra do Catimbó se dá em território sapopembense.

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Transcrição do trecho do romance Na Barra do Catimbó, Plínio Marcos, que cita Sapopemba:

... Seu Olegário pigarreou e, com sua voz rouquenha e com a autoridade de presidente, afirmou:
            - A nossa maior vitória, a maior de todos os tempos, foi a que a gente conseguiu contra o Estrela do Norte, um time de paraíba de obra que tinha campo lá pras banda do Sapopemba e que era metido a garantir resultado na peixeira. Pois a gente foi lá e carimbou eles. No campo deles.
            - E as peixeira, Seu Olegário?
            Seu Olegário mediu o perguntador, pigarreou mais uma vez, tomou um gole de cerveja e rosnou:
            - As peixeira eles teve que enfiar no cu, moleque. Foi ou não foi, Azulão?
            - Se o senhor tá dizendo, é que foi, Seu Olegário.
            O presidente correu a roda com os olhos, bebeu o copo de cerveja de uma só vez, limpou a boca com mão e, com sua voz rouquenha, prosseguiu:
            - Nós ganhamos eles de um a zero. Eles era invicto com nós. Nós acabamo com a alegria deles e continuemos mais nós. Agora, a verdade a gente diz. Essa vitória nó deveu ao Catimbó. Deveu ou não, Catiça?
            - Deveu. Mas a rapaziada que botem em campo não fez feio.
            - Nós foi lá com três caminhão de gente. Eles tinha umas dez vez mais gente pra garantir eles. Tudo na boca da espera, a fim de baixar o pau em nós. Uns quinhentos, eles tinha.
            - Bota gente deles nisso, Seu Olegário.
            - Era pra mais, Azulão?
            - Muito pra mais.
            - O que sei é que era gente pra caraio. O campo tava arrochadinho de cabeça-chata. Tava a três de altos com nego se agarrando pelos picos pra não espirrar pelo ladrão. Nós perto deles tava sem ninguém.
            - Mas não se afinamo.
            - Ah, isso não. Cheguemo maneiro, mas cheguemo pro desse e viesse. E entremo com a idéia de ganhar. Não foi, Catiça?
            - Também, botei um time encardido. Me lembro de cor até hoje. Nenê, Ranheta e Facada; Cativeiro, Chaminé e Bolbão; Chupeta, o falecido Zé Bigorna, o Chico Preto, o filha-da-puta do Piolhinho e o Chupim. Eta negada! Tudo eles ouriço. Mas conta o caso, Seu Olegário.
            Seu Olegário só olhou pra o Quim Ilhéu e ele entendeu que era para servir mais cerveja, o que fez rápido para não perder nenhum detalhe do caso. Seu Olegário esperou ser servido e só então continuou:
            - O jogo tava endurecido. Nós lá, eles cá. Eles cá, nós lá. Era bola com bola, pau com pau. Nós não entrava em campo, mas a torcida deles também não. Se alguém entra, ia feder. Nós tava ali. Até falemos pro Ranheta que se era para tirar o juiz, que ele podia tirar, que nós garantia. E o Ranheta acreditou. Tirou três juiz que eles botaram para roubar pra eles e botou três juiz pra roubar pra gente. Eles tirava o da gente e nós tirava os deles. Não tava fácil. Cda vez que ía tirar um juiz pra botar outro, era aquele quás-quás-quás do caraio. Parecia que ía ferver. Mas acabava indo pra frente. Uma zorra. Sabe como é, valia taça. Por falar nisso, Azulão, onde foi parar aquela taça que nós ganhou lá?
            - Nós perdeu ela no caminho. Nós deixou ela com aquele filho-da-puta do Melado e ele, bebum como uma vaca, deixou ela cair do caminhão e não falou porra nenhuma pra parar o caminhão e nós pegar a taça. Nós só viu quando chegou no pedaço. Aí, fizemo ele voltar a pé para achar o caneco e até hoje tamo esperando o corno filho-da-puta voltar com ela.
            - Tu tá confundindo essa taça com a que a gente ganhou do Corintinha da Vila Imaculada. Essa que o Melado perdeu. A do Estrela do Norte nós vendeu pro Bubu Intrujão pra poder pagar cerveja da festa. Se alemba, Seu Olegário?
            Meio embaraçado com a revelação do Catiça, que no entusiasmo estava revelando que eles vendiam o patrimônio do Amor e Glória, Seu Olegário continuou o caso, antes que alguém percebesse:
            - Mas nós ganhou essa taça por causa do Catimbó. O jogo tava duro. Zero a zero. Já tava escurecendo. A gente foi aí que um danado de um burro, que ninguém sabe de onde veio, entrou em campo e foi se plantar na nossa área. Bem perto do gol. Bicho filho-da-puta. Olha que entre nós e eles tinha mais de mil nego. Mil ou mais. Né, Azulão?
            - Bota gente nisso, Seu Olegário.
            - E aquela negada toda fez das tripa coração e o filho-da-puta do bicho não arredava. Dava coice. Queria morder. E não saía do lugar. Desgramado do bicho. Nós até tinha começado o enguiço pra trazer o caneco. Nós dizia: O burro é do campo de vocês, a taça é nossa. E eles vinha com papo de que nós é que levou o bicho pra complicar. A coisa começou a ficar encrespada. Já tava saindo uns empurra-empurra, uns tapão pra lá, outros pra cá, mais os diretor ainda tava naquela do deixa-disso. Só que eu já botei meu revólver no jeito. E tava naquele vai-não-vai,parecendo que ía, quando o Ctimbó que tava quieto berrou: “Eu tiro o burro dai”. Todo mundo duvidou. Mas o Catimbó se confirmou: “Eu tô dizendo que tiro essa porra daí e tiro mesmo. E quem for duvidar vai dividar da puta-que-pariu.” Um negrinho folgado quis azucrinar o Catimbó: “Então tira, porra.” Mas o compadre não se afobou. Meteu ficha: “Sou Amor e Glória até o cu criar bico. Por isso tem negócio. Se eu tirar o burro daí sozinho, é pênalti pra nós. Se eu não tirar o bicho, vocês fica com a porra da taça. Valeu?” Teve gente nossa que quis estranhar. Mas eu topei. Os paraíba de obra deles lá também topou. Porra, se todo aquele mundão de gente não tirou o bicho, não ía ser o negrão sozinho que ía tirar. Ficou tudo combinado. Então o Catimbó foi no burro e nem conversou. Deu um puta de um soco na cabeça do filho-da-puta do bicho. O burro nem tossiu nem peidou. Caiu duro. Não foi, Azulão?
            - Foi assim mesmo que foi, Seu Olegário. Como o senhor tá dizendo.
            - Aí, o Catimbó pegou o burro pelo rabo, arrastou ele prá fora do campo, jogou o bicho na vala e já foi berrando: “Vamo bater esse pênalti. Já matei um burro e não custa matar outro.” E eles meteram o galho dentro. Nós bateu o pênalti.
            - Quem chutou, Seu Olegário?
            - Quem sabe isso é o Catiça.
            - Foi o Chupim. Deu um puta bico na bola, que o gleiro deles nem viu onde ele foi. Foi na casa do caraio, lá no mato. Já tava escuro e eles foram procurar a bola, que era a única que eles tinha. Eu peguei a taça e nós veio simbora. Mas essa nós ganhou por causa do Catimbó. (páginas 50-53)


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

UM OLHAR DAS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA SOBRE O MASCARENHAS DE MORAES EM 2015

Por Moisés Basílio Leal


        Sempre é bom encontrar coisas sobre a realidade que vivemos. E foi pesquisando ao acaso que encontrei o trabalho de pesquisa das alunas do 5º semestre do curso de Pedagogia da UniSant'Anna, Aline de Souza, Débora Paiva, Maria Adriana e Sâmara Xavier, sobre o Conjunto Habitacional Marechal Mascarenhas de Moraes.

      O trabalho foi  publicado no YouTube em dezembro de 2015 tem a duração de 15 minutos e procurou dar uma visão panorâmica do território e a partir desse diagnóstico apontar uma proposta de intervenção. 

Fonte: Internet, YouTube, acesso em 11/09/2017, https://youtu.be/Di9E78Ze3KA
         


quarta-feira, 9 de abril de 2014

O CAMPO DE ESPORTE CLUBE GAROA

Por Moisés Basílio

Achei nos meus guardados essa reportagem sobre o campo de futebol do Garoa, que saiu no jornal O Estado de S. Paulo no dia 25 de março de 2005. Quase 10 anos depois a paisagem local pouco foi alterada. 


quinta-feira, 3 de abril de 2014

MANIFESTAÇÃO DOS ALUNOS NA EE VALDIR FERNANDES PINTO NO MASCARENHAS DE MORAES

Por Moisés Basílio,


E não é que as manifestações chegaram ao Conjunto Mal. Mascarenhas de Moraes. Foi na noite dessa terça-feira na escola estadual do buracão. Cá de cima só escutei o barulho do helicóptero. Depois deu no jornal da TV na parte da manhã e repercutiu em várias mídias. 




Fonte: Internet, sítio G1-SP, em 03/04/2014: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/04/adolescentes-sao-apreendidos-em-protesto-por-melhorias-em-escola.html

Adolescentes são apreendidos em protesto por melhorias em escola

Confusão aconteceu na noite de quarta-feira, em Sapopemba, em SP. 
Secretaria da Educação não sabia de falhas na infraestrutura no colégio.


Dois adolescentes foram apreendidos depois de uma manifestação, que terminou em confusão, em Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo, na noite de quarta-feira (2). Os jovens protestavam contra a estrutura precária da Escola Estadual Valdir Fernandes Pinto. A Secretaria Estadual da Educação disse que não foi informada dos problemas na infraestrutura do colégio.
O Bom Dia São Paulo já tinha recebido o e-mail de uma aluna contando os problemas da escola, goteiras nas salas de aula. Para evitar acidentes, os funcionários espalharam papelões pelo chão. Imagens de um celular mostram o teto manchado pelos vazamentos e uma escada interna completamente molhada após uma chuva.
Na noite de quarta, os estudantes marcaram um protesto contra a situação da escola. “Está assim [deteriorada] desde o ano passado: goteira, não tem nem como entrar, papelão no chão, a escola toda muito suja, não tem água para beber”, afirmou.

Testemunhas disseram que a confusão começou depois que alguns baderneiros começaram a jogar pedras contra os policiais, que acompanhavam o ato. Para conter os manifestantes, a Polícia Militar usou bombas de gás. Em nota, a corporação disse ter tentado negociar sem sucesso os manifestantes e que recorreu às "técnicas de controle de distúrbios civis" por causa de ataques com pedras feitas pelos manifestantes contra policiais e contra um carro da PM, que ficou danificado.
Segundo a Polícia Militar, os dois adolescentes foram detidos porque jogaram pedras contra os policiais. Na delegacia, eles foram autuados por ato infracional e serão apresentados na Vara da Infância e da Juventude.
O motorista Manoel de Souza Espindola, que é pai de um dos adolescentes, reclama das condições precárias da escola e da falta de segurança.

“A segurança não existe. Não tem policiamento. Não tem nada. Só chega policial na hora que acontece isso, mas as drogas em volta da escola isso ai é constante”, afirmou.

Sobre as reclamações sobre falta de segurança, a Polícia Militar disse, em nota, que adota medidas de prevenção na região da escola e que fez várias prisões, detenções e apreensões nos dois primeiros meses do ano.
A Secretaria Estadual da Educação disse que a chuva de domingo (30) arrancou algumas telhas da escola. Por isso, três salas foram alagadas, mas que nenhuma aula foi comprometida. A secretaria disse mandará um funcionário fazer uma vistoria na escola.